quinta-feira, 14 de maio de 2009

Tópicos Dominantes a partir de um exercício

[ Em 23 nov 2005 me foi proposto um exercício que consistia em identificar na historicidade de Guimarães Rosa o Tópico 10 Raciocínio e dentro destes se era cíclico e/ou aleatório, era isto que era para ser feito, contudo pensei e escrevi outras coisas bem diferentes; quero deixar claro que o que escrevi/derivei é de minha inteira responsabilidade, pois não seria ético dar a entender que o texto que segue foi 'aprovado' pelos profissionais da filosofia clínica, assim, o meu texto, a maioria de todos os textos que postarei neste blog 'fogem' à teoria da filosofia clínica no sentido de que eu os levo para outros lados, derivo e escrevo ideias que não constam nos ensinamentos da filosofia clínica, portanto, assumo a distância teórica que existe entre o que penso e escrevo e o que de fato é ensinado pelos filósofos clínicos para manter a integridade destes. sandra adriana]
HISTORICIDADE DE GUIMARÃES ROSA

TÓPICO 10 RACIOCÍNIO

"_CÍCLICO [fazem parte de um raciocínio cíclico: os devaneios; as reflexões são iniciadas a partir de abstrações. B]
_ALEATÓRIO [fazem parte de um raciocínio aleatório os pré-juízos, isto é, o raciocínio inicia a partir de pré-juízos, verdades subjetivas. B]"
Questões formuladas a partir do encontro_
1. Existem outros tipos de raciocínios? Algo como: raciocínio-em-recíproca-de-inversão; raciocínio-em-estado-sensorial; raciocínio-em-estado-abstrato; raciocínio-em-estado-emoção; raciocínio-em-estado-pré-juízo; raciocínio-TAI; raciocínio-universal; raciocínio-particular, raciocínio TSingular; raciocínio T Unívoco; raciocínio T Equívoco; raciocínio DC; raciocínio DI; raciocínio B_E; raciocínio-busca; raciocínio paixão dominante; raciocínio C&F; raciocínio espacialidade-inversiva; raciocínio-recíproca-inversiva; raciocínio-deslocativo-curto; raciocínio-deslocativo-longo; raciocínio-semiótico; raciocínio-significado; raciocínio-armadilha-conceitualizada; raciocínio-axiológico; raciocínio-topicidade-singular-existencial; raciocínio-epistemológico; raciocínio-p.existencial; raciocínio-ação; raciocínio-hipótese; raciocínio-experimentação; raciocínio-princípios-de-verdade; raciocínio-analítico-estrutural; raciocínio-intersectivo de EP; raciocínio-matemático-simbólico; raciocínio-autogênico.

Com isto quero dizer que:

Existe um tópico dominante na estrutura do pensamento de cada um de nós.
Se há este tópico dominante o mesmo 'conduz' uma pessoa por muito mais tempo do que todos os outros tópicos.
Em uma analogia com Aristóteles poder-se-ia pressupor que este tópico, sendo dominante, conteria os outros tópicos subjacentes a ele em um grau menor de intensidade, “subordinados” ao tópico predominante, os não-dominantes seriam partes do tópico maior-dominante_ é um raciocínio que intuo estar saindo de meus estudos a partir da filosofia antiga, mas assim, transpostos para a filosofia clínica não possuem atribuição platônica nem platonistas, penso eu.

Assim, “alguns” tópicos estariam contidos no tópico predominante e possuiríamos uma interseção de tópicos_ provavelmente isso tem a ver com malha intelectiva, ainda que eu tenha extrapolado nas derivações_

Como um pré-juízo que inicia um raciocínio seria aleatório? Como saber se é um pré-juízo que gerou um raciocínio? Precisaríamos antes saber de que natureza é este pré-juízo, se ele é um p-j escolhido, se é um p-j que habita a EP mas não há ciência de sua existência muito menos questionamentos etc; é difícil saber onde um pré-juízo se encontra, qual seria o lugar de um pré-juízo? E dessa forma teríamos relações quase ao infinito: pré-juízos-representativos; pré-juízos-sensoriais; pré-juízos-inversivos; pré-juízos-de-reciprocidade-inversiva; pré-juízos-significados; pré-juízos-analíticos-estruturais etc etc ... não vou nem seguir com essas expressões sincategorimáticas, pois isso vai me levar a um 'raciocínio-desesperante.'

Isso faz sentido? Captar o tópico de maior importância e colocar os outros tópicos como subtópicos adjetivando-os como “subcategorias” à estrutura do pensamento? Seria possível trabalhar assim? Pense, os subtópicos, se fizermos uma leitura aristotélica, seriam os “acidentes” do tópico-substância, seriam acidentes no sentido de que podem acontecer ou não devido a estarem subjacentes ao tópico dominante. Não sei, eu gostei dessa minha analogia, mas acho que desvirtuei tudo não? Não consigo me manter dentro daquilo que as coisas são, de como as coisas são dadas, eu tenho essa tendência de ir-ir-ir-em direção ao raciocínio-cíclico com uma certa dose de aleatoriedade-espontânea ou intuitiva ou de momento, eu apenas vou em busca de explicações e se não as encontro eu acabo caindo no raciocínio-cíclico, de devaneios_ segundo os exemplos que você me forneceu no exemplo. Mas, particularmente não vejo muita distância entre explicar e derivar ou explicar e abstrair, pois para explicar é necessário abstrair e uma abstração acaba produzindo uma explicação, o texto autobiográfico de Guimarães Rosa é uma explicação de sua vida de ser humano e escritor ou de escritor e ser humano para isso ele precisou abstrair e entrar em alguns devaneios de seu passado; o texto é uma abstração/devaneio de sua vida de ser humano e escritor ou de escritor e ser humano para isso ele precisou explicitar partes do seu passado através de vários pré-juízos. O texto alterna os dois tipos de raciocínios, ora GR é cíclico, pois abstrai várias situações vividas abordando devaneios do vivido-no-sertão, ora ele é aleatório, pois explica, por exemplo, a vivência política por meio de suas próprias verdades subjetivas. É difícil dizer com propriedade onde inicia um tipo de raciocínio e onde termina e começa o outro, pois me parece que ambos se misturam ao longo do texto.

Novamente não entendi direito os termos utilizados: cíclico e aleatório.
Vou me render ao estado conformativo da vida simples. Ainda bem que resolvi fazer isso morando aqui.

Delirei muito?
Em todos os casos levarei na próxima quinta-feira o texto marcado com: RA & RC.
*

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alguns pensamentos soltos:

2) Ao se trabalhar com tópicos que se constituem como partes de uma unidade não se está fragmentando a existência de uma pessoa? Como estabelecer uma visão de totalidade sobre uma pessoa sem vê-la como tópicos fragmentados e quantificados? Isto é, como explicitar via linguagem a estrutura de pensamento abordando os tópicos não de forma separada, mas de uma forma que constitua a existência de uma pessoa, seu modo-de-ser/existência em unidade ainda que constituída por partes. Deve haver uma relação entre os tópicos que seja como uma “síntese” de toda a EP e que não seja definível por nenhum dos tópicos mas por uma abrangência maior que não caia na “tipologia” da EP. Uma espécie de autogenia-singular, talvez, um ponto de vista maior, não sei como explicar isso... em imagens: como uma cor etérea que estivesse dentro, ao redor, por sobre, no tempo e no espaço, nos submodos informais, como uma cor em forma de neblina que envolvesse os tópicos e os submodos imperceptivelmente, mas que está ali fornecendo a “unidade” a tudo aquilo que constitui a existência de um ser humano.

Estranho, critiquei tantas vezes a busca de uma unidade filosófica em forma de sistema filosófico na Academia e nos pensadores sistemáticos e estou eu, agora, procurando a mesma coisa dentro da Filosofia Clínica. Mas, não desejo buscar um ponto sistemático para a EP, seria sim algo como um “ponto” da existência singular de uma pessoa, sendo redundante e nada tendo a pensar neste instante sobre tal especulação fico com a verdade subjetiva de todos os humanos: o “ponto” é o próprio fato de sermos humanos, esse é o ponto e isso é tudo? Estou cansada de buscar respostas e não encontrá-las, fiz centenas de perguntas e poucas foram respondidas. Não consigo ser conformativa com isso, quero respostas para ir em frente, mas não as encontro. Encontro cada vez mais perguntas & perguntas. Por exemplo, não concordo com a divisão do T. 10 em Cíclico e Aleatório; não consigo ver no R. Aleatório uma aleatoriedade absoluta para que o termo utilizado seja este; não consigo ver somente devaneios na R. Cíclica, pois nem toda abstração é um devaneio, embora todo devaneio possa ser abstrativo_ já que até mesmo as imagens dentro do pensamento são abstrativas; nem todo pré-juízo pode ser aleatório, pois se considerarmos que todo pensamento e todo dizer constitui-se de verdades subjetivas_ já que a FC parte do homem como medida de todas as coisas_ então, nem todo pré-juízo teria que necessariamente ser aleatório, pode ser de outra forma, verdades subjetivas escolhidas ao longo da vida, a FC pode ser a minha verdade subjetiva hoje e não o ser amanhã e isso é uma escolha minha que não é aleatória, não é "dependente de fatores incertos, sujeitos ao acaso" já que meu pensamento não é puro acaso logo minhas escolhas também não o são, não é "fortuito, acidental" [num sentido não-aristotélico] então como afirmar que uma verdade subjetiva por ser uma "explicação" [definição dado por você] seja aleatória? Para ser aleatória teria que ser algo tipo senso comum, ou aquilo que Nietzsche tanto criticou, aceitar tudo que acabamos sendo pela vida que vamos assimilando sem nos perguntarmos se tais valores são aqueles desejados.
O que significa dizer que um pré-juízo é aleatório? O que significa dizer que uma razão cíclica é uma abstração e um devaneio sem que sejam diferentes entre si? Sabe, acho que não consigo encaixar os termos com suas definições, parece haver sempre um algo “equivocado”, algo que não faz sentido para mim, que possui contradição, que possui coisas a serem explicitadas e tal. Talvez a fc não queira cair na objetivação da linguagem para não cair no mesmo problema heideggeriano, mas não temos como fugir à armadilha da linguagem e de alguns referenciais_ tipologias_ e de alguns pressupostos como ponto de partida para se encontrar alguns caminhos, do contrário, de que valeria atender um partilhante se não se pode sequer pensar que este caminho existe?
*
[... longa digressão bem boba...] para terminar com:
Como é uma morte que inicia pelas extremidades?

Para dizer que a digressão foi um exemplo de rac. cíclico em forma de devaneio-abstrativo, também em forma de analogias, metáforas, vice-conceitos?, não sei, quando as coisas fluem é dificil dizer o que são, é dificil explicar algo que vem pela espontaneidade e no momento em que eu tivesse certeza de ter conseguido explicar um ato espontâneo [mesmo do pensar] então eu teria uma verdade subjetiva a mais na minha vida, outro pré-juízo, e não seria aleatório se eu o tivesse encontrado via reflexão [cíclico] hummm, agora percebo algo... olhe a armadilha em que estou [você também e todos os filósofos deste mundo] não conseguimos trabalhar sem definições, sem dizer o que as coisas são, sem responder à pergunta O que é "isto"? [e a culpa não é dos gregos, é dos humanos mesmo] mas assim que encontramos uma definição os problemas aumentam, é um paradoxo, digo, uma armadilha sem fim, uma possível definição encontrada implica em outras inúmeras questões... droga, está me fugindo o raciocínio, quero dizer que o erro talvez esteja na forma como nos acostumamos a definir algo, tipo, "aqui é raciocínio cíclico", agora, após esta vírgula é raciocínio aleatório" e por aí vai, não teríamos que ver a "ponte" que liga uma coisa à outra?, não teríamos que captar a passagem de uma coisa a outra? não há um término e um re-início de uma forma-de-ser à outra, há uma continuidade-existencial, não vejo isso no modo como olhamos para a historicidade de G Rosa, por exemplo, trabalhar assim, aqui é X ali é Y estabelece o pressuposto de que há sempre um início e um fim sem continuidade com outros elementos que envolvem uma pessoa em sua singular-totalidade, ou seja, sua existência. Não seria preciso ver os fios invisíveis que fazem essa transição de uma coisa a outra? Pontos de referência que não sejam "fixos" e afirmativos, que possam ser como a vida, um fluir, uma cor em forma de neblina, um estar-aí com continuidade, sem fragmentações.

desculpe, escrevi muito e já nem sei o que escrevi, vou enviar e ler depois, para ser fiel à espontaneidade, do contrário vou cortar partes. melhor filtrar aí o que serve de especulação filos ou não.
beijo
sANdrA
[pois então... reflexões e escritos de 2005 postados em 2009_ deve servir para alguem pensar algo bom em cima disso, não é mesmo? eu pratte in em terra de azevim...]

Ilações: Filosofia Clínica: Tentando responder para mim sobre o deve haver algo que não muda na estrutura de pensamento de uma pessoa

Ilações: Filosofia Clínica: Tentando responder para mim sobre o deve haver algo que não muda na estrutura de pensamento de uma pessoa

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